Sobre a Culpa
- Natalia Fioravante
- 17 de out. de 2023
- 4 min de leitura

Estava pensando sobre algo importante que aconteceu na minha jornada de autoconhecimento. Sempre carreguei muita culpa, esse sentimento determinava boa parte de minhas ações no mundo, o que eu iria dizer, como iria me comportar em determinadas situações, em um passeio ou encontro com alguém sempre saía com a sensação que tinha feito algo de errado, e comecei a me dar conta durante a terapia que eu sempre acreditei que eu era totalmente responsável por tudo que acontecia nos encontros e desencontros da vida.
Alguém mais se identifica com isso?
Me dei conta que a culpa permeava meu caminho, e bloqueava minha expressão tirando de muita coisa de mim. Talvez você aí não se deu conta ainda mas o sentimento de culpa talvez esteja te paralisando e tirando muitas coisas de você também.
Por trás de muitas ações suas a culpa pode estar como um pano de fundo para parecer algo diferente do que é sem você se dar conta. Por exemplo, faz parecer que você é uma pessoa muito dedicada ao extremo a tudo que se propõe a fazer, sabe o perfeccionista? Então, aquele que não pode errar nunca, esse mesmo que se cobra por desempenhos o todo tempo? E agora se identificou? Conhece alguém assim?
Agora como fica essa pessoa quando comete um erro? É bem possível que a culpa se apresente de forma tão massacrante pra ela que é preferível o desgaste de se exigir demais do que ter que lidar com a sensação de não ser bom o bastante quando um erro é cometido, e faz tudo pra que isso não volte a acontecer e então vira um ciclo sem fim de autoexigência e cobrança. Entende como a culpa pode estar por trás de muito de nossas ações?
Nossa expressão fica diminuída, não revelamos nossa verdadeiro Eu para o mundo com medo de nos sentir culpadas caso não correspondamos ao que acreditamos que o mundo espera de nós.
Somos exigentes e cobradores de nós mesmos, não podemos errar.
Sentimos que estamos devendo alguma coisa, em constante falta, se falamos não deveríamos ter falado, se não falamos deveríamos ter falado.
Passamos a evitar o sentimento de culpa, então passamos a fazer de tudo para agradar os outros, afinal não podemos desapontar ninguém, repare que por não sabermos lidar com a culpa por ter decepcionado alguém fazemos coisas que nem gostaríamos de fazer.
Nos retraímos, sufocamos nosso Eu, nos colocamos em um lugar apertado. Falar sobre a culpa é de extrema importância, mas não só isso, lidar com ela também é, nos libertar da pretensão e orgulho (isso mesmo! existe muito orgulho e um ego pretensioso nesse esquema todo da culpa) de que vamos dar conta ou ser responsáveis por tudo, porque na real nem sempre vamos. Pra evitar o sentimento de não ser bom o bastante e nos sentir culpados lançamos mão do controle, controlamos o que vamos falar, sentir e como vamos agir, tudo esquematizado!
Os motivos de tanta culpa podem ser inúmeras, talvez uma educação rígida, uma crença religiosa que diz que você deve ser bom o tempo todo, uma crença de que existe sentimentos "ruins", conceitos muito rígidos de certo e errado, pouca aceitação de si próprio levando você a acreditar que deveria ser uma pessoa diferente do que se é, enfim só você pode dizer como é pra você.
Quanto a mim como estava dizendo no começo do texto estou bem contente por ter chegado onde estou no meu processo terapêutico, há anos o sentimento de culpa que era como um nó me apertando a garganta vem se afrouxando, não digo que estou curada, pois não é essa proposta ou pretensão de uma análise, mas posso dizer que lido bem melhor com esse sentimento hoje e consigo identificar quando as "garras da culpa" surge.
A culpa tem muitas camadas que precisam ser trabalhadas e olhadas com certa disponibilidade, nem sempre é fácil identificá-la, muitas vezes ela está tão escondida dentro de nós que nem imaginamos que ela está lá, afinal ela gosta mesmo é de esquemas mais aceitos por nós mesmos para se camuflar.
Falamos pouco também de como vivemos em uma sociedade que valoriza muitos padrões ideais de como tudo deve ser, o que sai fora disso é visto como ruim, colaborando para a culpa se manifestar.
Dá para trabalhar o sentimento de culpa e flexibilizar, diminuindo pretensão de que não pode faltar jamais, esse pode ser o primeiro passo, o outro é tirar a carga das próprias costas se colocando nesse lugar de ser responsável pelo que os outros vão sentir se você agir de determinada forma ou não, isso é ir construir aos poucos uma forma mais cuidadosa e amorosa consigo mesmo.
Se as "garras da culpa" vem te apertando procure ajuda, resgate seu verdadeiro Eu desse opressor, leva tempo, eu bem sei, e lembre-se você não precisa ser responsável por tudo de errado que atravessa seu caminho.
A culpa pode ter várias camadas como eu disse, mas com certeza uma delas, se trata da relação que se tem com a gente mesmo, somos nossos próprios juízes, e isso tem como ser transformado.
*Arte: Amanda Cass



Excelente depoimento e reflexão. Parabéns